Não só é na vida de James Joyce que o leitor encontra enredos e às vezes até esclarecimentos para certos trechos dos seus romances, mas é na relação vida-obra e na complicada alquimia que faz com que ela transcenda o egoico e se universalize, que se localiza grande parte da magia da leitura da própria obra de Joyce. É claro, portanto, que toda a documentação que cerque a vida de Joyce há de ser de grande interesse para os leitores. E, entre esses documentos, as cartas trocadas entre ele e sua esposa Nora ocupam lugar absolutamente central. Muito além da relevância das ditas "cartas sujas", em que eles trocavam "safadezas" quando estavam sem se ver, o que essa correspondência registra, expõe e elucida é simplesmente a relação mais definidora da história de vida de Joyce. O que o leitor brasileiro recebe, neste volume carinhosamente traduzido e solidamente organizado por Dirce Waltrick do Amarante e Sérgio Medeiros (nada atoamente marido e mulher) é uma via de acesso a um compartimento profundo e rico da vida sentimental de um grande reelaborador de sentimentos e vidas. É chegar mais perto da fonte. "Ulysses", de um certo ponto-de-vista, é a história de Joyce sem Nora.
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